Na Bretanha, não há pequeno-almoço sem uma torrada generosamente untada com manteiga… salgada, é claro! Mas de onde vem essa paixão inabalável pela manteiga salgada?
Essa é uma pergunta que divide as mesas e pode provocar verdadeiras discussões culinárias: prefere manteiga doce ou manteiga salgada? Na Bretanha, a resposta não deixa margem para dúvidas: para muitos, «manteiga doce não é manteiga!»
Como explicar este curioso apego dos bretões à sua manteiga salgada? É simplesmente uma questão de sabor, de hábito regional, ou trata-se de uma saga histórica com um toque de revolta? Contamos-lhe tudo, graças às informações de Magali, blogueira bretã.
Quando o sal valia ouro
Na Idade Média, a manteiga já era um produto precioso, especialmente nas zonas rurais, onde os meios eram escassos. Os produtores adicionavam-lhe sal para conservá-la por mais tempo. E foi aí que tudo mudou.
Em 1342, o rei Filipe VI instituiu um imposto temido: a gabela, a famosa taxa sobre o sal! Numa França dividida em zonas fiscais, este produto tornou-se um luxo inacessível para muitos.
Abandonou-se então a manteiga salgada em favor da manteiga doce, por falta de meios para a salar. Em todo o lado? Não. Uma região resistiu ainda e sempre ao invasor fiscal!
O privilégio bretão: sem impostos, sem compromissos
A Bretanha, então ducado independente, não se deixa impor. É isentada da gabela e, mesmo após a sua união com a França em 1532, mantém este privilégio raro: o direito de salar sem ser tributada.
Melhor ainda, a região produz ela própria uma grande quantidade de sal, nomeadamente graças aos seus pântanos salgados: o sal de Guérande é mundialmente famoso.
Recomendamos que visite um durante as suas próximas férias na região: aprenderá muitas coisas sobre o sal e poderá comprá-lo diretamente ao produtor!
Enquanto o resto do país economiza no sal, a Bretanha continua a salgar a sua manteiga sem contar. A manteiga salgada torna-se um emblema regional, um saber-fazer local profundamente enraizado no quotidiano.
E no resto do país, será preciso esperar até 1945 para que a gabela seja definitivamente abandonada.
Manteiga salgada ou manteiga sagrada?
Esta forte ligação entre a manteiga salgada e a alma bretã traduz-se até nos rituais. Em Spézet, no Finistère, todos os anos é depositada numa capela uma bola de manteiga gigante esculpida durante a festa de Notre-Dame-du-Krann. Uma oferenda surpreendente?
Não para os bretões. Para eles, a manteiga salgada é mais do que um ingrediente: é um tesouro cultural! E tu, prefere manteiga sem sal, com cristais de sal ou manteiga doce?