Cádmio: por que é preciso comer menos chocolate, segundo o Dr. Jimmy Mohamed

O Dr. Jimmy Mohamed alerta: o chocolate, muito rico em cádmio, deve ser consumido com moderação para evitar riscos à saúde. Explicações.

O chocolate ocupa um lugar de destaque no dia a dia dos franceses, com mais de 330 000 toneladas vendidas por ano. Mas por trás dessa guloseima esconde-se um problema muito mais sério do que parece.

De acordo com a UFC-Que Choisir, muitos produtos à base de cacau apresentam teores preocupantes de cádmio, um metal pesado naturalmente presente no solo e acentuado pelo uso de fertilizantes fosfatados. Para o Dr. Jimmy Mohamed, colunista de saúde da RTL, a conclusão é inequívoca: «Vamos ter de comer menos chocolate».

Riscos reais, especialmente para as crianças

Este elemento químico é considerado cancerígeno para o ser humano e a sua acumulação no organismo também favorece patologias renais e ósseas, nomeadamente a osteoporose. O médico lembra que os limites fixados pelas autoridades não devem ser interpretados como zonas de segurança.

«Atenção, quando se diz 50%, isso não significa que não haja riscos a 50%. Nós estabelecemos limites que são um pouco arbitrários e que certamente deveriam ser reduzidos», partilha o especialista. Por outras palavras, mesmo abaixo das doses oficiais, os perigos persistem.

É preciso redobrar a vigilância com as crianças, principais consumidoras de produtos de chocolate. O exemplo dado pelo estudo da UFC-Que Choisir é revelador: uma tigela de cereais com chocolate ao pequeno-almoço, um leite com chocolate e dois biscoitos mais tarde, a criança já atingiu metade da dose diária que não deve ser excedida.

«Se for para comer chocolate, que seja um ou dois quadradinhos de vez em quando, mas não misture produtos», insiste o Dr. Jimmy Mohamed. Ele também lembra que o cádmio não é exclusivo do cacau, pois também é encontrado em cereais e batatas. Uma porção de batatas fritas ou um pacote de biscoitos a mais e o limite é ultrapassado.

O chocolate orgânico é ainda mais problemático

Embora se possa pensar que as barras orgânicas são uma alternativa mais segura, o médico adverte que não é assim. «E é ainda pior para o chocolate orgânico, que é cultivado na América do Sul, onde os solos são naturalmente ricos em cádmio. Se comer dois quadrados de chocolate biológico proveniente do Peru, para um adulto, isso representa 25% da ingestão diária máxima de cádmio e 60% para as crianças.»

Este dado não significa que se deva abandonar os produtos biológicos em geral: para as batatas ou o pão, é mesmo o contrário. Mas, no caso do chocolate, é melhor dar preferência aos produtos africanos, onde os solos apresentam, em média, quatro vezes menos cádmio.

O perigo do cádmio não se limita ao cancro. Pesquisas mostram que ele atua comodesregulador endócrino, altera a reprodução, aumenta os riscos de doenças cardiovasculares e pode estar envolvido no aumento dos casos de cancro no pâncreas entre os mais jovens.

Jimmy Mohamed lembra que a exposição é quase inevitável, pois «quase todos os alimentos estão contaminados». Aplicações como o Yuka não sinalizam este tipo de poluentes e nenhuma menção aparece nas embalagens. A ausência de informação não deve, portanto, tranquilizar.

Neste contexto, a única arma verdadeira continua a ser a diversificação da alimentação. O médico aconselha reduzir a proporção dos alimentos mais afetados, como o trigo, o pão, as batatas ou ainda o cacau, e introduzir mais frutas e legumes variados.

Para quem tem uma horta, cultivar os seus próprios legumes é uma alternativa mais segura, uma vez que os solos domésticos são geralmente menos contaminados. Por fim, deve ser dada especial atenção às crianças e às mulheres que sofrem de anemia.

«Quando tem falta de ferro, o cádmio ocupa o seu lugar no intestino e é absorvido muito mais facilmente», alerta o médico. Corrigir esta deficiência é essencial para limitar a absorção do metal.

O chocolate não deve ser banido, mas sim reaprendido. Limitar a quantidade, escolher a sua origem e evitar multiplicar os produtos com cacau ao longo do mesmo dia tornam-se gestos de prudência indispensáveis. Como salienta o Dr. Jimmy Mohamed, o que está em jogo vai além do simples prazer doce: trata-se de uma questão de saúde pública.